Rendição

Noite cerrada de chuva torrencial, o cavaleiro, outrora o Unico, caminha de arrasto perante a terra inundada, dos seus olhos corria sangue. Derrotado, ajoelha-se no solo imundo, sem mais nada na vida que o acompanha-se entrega a sua arma, retira cansadamente a sua armadura, rendeu-se, a volta uma orde de caras semi-descobertas emanavam olhares de odio, de orgulho e de vitória. O cavaleiro acabara de entregar tudo o que tinha. Já Longe... ouve as palavras vitória, de uma multidão.
Acordou. Não era cavaleiro algum, era apenas O Outro, mas também outrora o Unico, não havia arma, não havia armadura. Não havia nada, nem vozes. Era ele apenas ele, desmaiado na terra encharcada enquanto as pingas do sobreiro lhe caiam pesadamente na cara e se misturavam com as lagrimas. Era a realidade, ao contrário do cavaleiro, este não entregou uma arma, mas perdeu o coração, não entregou uma armadura, mas perdeu a alma, não perdeu o titulo de cavaleiro, mas sim o seu pilar, a sua vida, a sua força. O Outro era agora apenas, um corpo oco, de olhar baço, a caminhar de paços mecanicos, lado a lado com o tempo. Tic Tac, Tic Tac, confundem-se com o palpitar do seu motor, antes um coração. Parou. Olho em volta e vê tudo escuro, decide o caminho, é em frente. Chama o tempo e vão, sem sentido, sem conteúdo. Ao contrário do caveleiro este não tinha sido derrotado, mas destrúido. E assim se faz o caminho, a espera que o tempo o pare, ou ele pare o tempo.
Talvez seja uma paga por os seus erros, talvez, seja o que mereça. Talvez não exista volta a dar. Talvez seja apenas uma ruina.

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